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Microcorrentes na Cicatrização de Feridas Crônicas da Pele – Parte 2

Foram publicados diversos trabalhos sobre os efeitos da estimulação elétrica em culturas celulares e experimentos “in vivo” em animais.

A corrente direta ativa respostas celulares com magnitudes comparáveis às fisiológicas. Os fibroblastos invadem a matriz de colágeno na ferida cutânea quando o tecido é submetido a ação da corrente observando-se ainda o alinhamento das fibras de colágeno.

As correntes diretas utilizadas situaram-se entre 20 e 100mA sendo que a resposta máxima dos fibroblastos foi observada nas proximidades do cátodo.

Segundo Erickson e Nuccitelli, a migração celular dos fibroblastos em direção ao cátodo e seu realinhamento no eixo longitudinal com localização perpendicularmente à direção do campo, portanto, são devidas à atuação da corrente direta sobre a ferida cutânea não somente em animais estudados como também no ser humano.

Miller e Gentzkow em 1991 referiram que nos fibroblastos ocorreram elevações na síntese do DNA de até 20% e da síntese de colágeno de até 100% após a ação da corrente direta.

Em 1992, Vodovnik observou que a proliferação celular era mais rápida havendo uma subregulação do processo quando a velocidade era rápida demais.

Cooper e Schilwa em 1985, utilizando células epidérmicas expostas a campos elétricos de corrente direta observou que havia migração de células epiteliais para a periferia da úlcera.

Além dos fibroblastos e células epidérmicas, vários outros tipos de células respondem aos estímulos elétricos como as células cartilaginosas que tem seu metabolismo ativado havendo redução ainda do número de mastócitos.

Em tecidos inflamados, os neutrófilos são atraídos até o cátodo sugerindo uma ligação entre os eventos quimicamente mediados a reatividade elétrica.

Bach em 1991, observou aumentos significativos no conteúdo de colágeno na ferida e em seu redor.

Em diversos casos clínicos tratados, observou-se uma redução na contagem de bactérias em feridas com estimulação pelo polo negativo. Em seguida, utilizou-se estimulação pelo polo positivo para ativar o processo proliferativo.

Observou-se que a alternância da polaridade no eletrodo aplicado à ferida teve reduções em até 18% das dimensões originais em 2 semanas, e até para 5% das dimensões originais ao final de 3 semanas de tratamento.

Os pacientes tratados referiram diminuição da dor e do desconforto.

Concluindo, a estimulação elétrica elimina as forças prejudiciais que atuam no local da ferida, prevenindo ou eliminando a infecção, oxigenando de forma adequada os tecidos e garantindo efeitos sistêmicos.

Após a atuação da corrente elétrica observa-se um estímulo na síntese do DNA, do ATP e do colágeno. A ativação dos fibroblastos e dos linfócitos T com elevação nos níveis da Ca++ é outro fator de grande importância observado.

Esta ativação promovida pela estimulação elétrica na cicatrização das feridas é consequência de processos como:

  • alteração da bioeletricidade endógena
  • ativação de células participantes do processo inflamatório
  • presença de produtos da desagregação dos elétrons
  • atração de células do tecido conjuntivo
  • melhor replicação celular
  • inibição dos microrganismos infecciosos
  • melhor biossíntese celular

Em suma, a estimulação elétrica é um “gatilho” para o desencadeamento do processo de reparo devido ao fato de que o aporte de energia pode iniciar o mecanismo que dará incentivo à cascata química observada durante a cicatrização.

Pele do dorso da mão.

Pele do antebraço.

Epiderme.

Juliana Fernandes de Almeida
Biomédica – CRBM – 0615 – Bióloga – Pedagoga

Bibliografia
Eletroterapia de Clayton – Sheila Kitchen e Sarah Bazin – 10º edição – Ed. Manole – 1996